História
“Nunca soube o que é ter medo; se algo quero, a nada cedo, nem que pareça impossível; e em tudo que for possível mando, tiro, ponho e vedo”. (Dom Quixote, segunda parte, Capítulo XX, clássico de Miguel de Cervantes).
Este trecho da obra de Cervantes reflete o mesmo espírito daqueles espanhóis que um dia chegaram à Bahia com a finalidade de transformar sua vida e vencer. O mesmo sentimento daqueles 12 emigrantes que se reuniram numa sala do prédio da Real Sociedade Espanhola de Beneficência, na Barra, em 5 de novembro de 1911, com o objetivo de fundar o Casino Español. O presidente da assembleia, José Augusto Ventim, convocou os companheiros “à luta sem descanso, sem divergências nem desfalecimentos, até a suprema conquista da arte, religião, sem prêmios nem castigos, e que um dia a amada pátria distante fale de nós como exemplo vivo de amor e fé, de amor à pátria e à arte, supremas diretrizes de toda a finalidade humana”.
Estava criada uma sociedade artístico-cultural, com a intenção de estreitar os vínculos entre a comunidade galega e a sociedade baiana. Dois contos e oitocentos réis foram suficientes para dar início aos trabalhos, a partir de suas instalações num prédio da Piedade. No dia 10 de abril de 1929, a instituição mudou definitivamente a sua razão social para Centro Espanhol.
Passaram-se 17 anos. Em 26 de março de 1946, alguns jovens liberados por Luis Tomás Morena compraram terrenos na Avenida 7 de Setembro (a mais tradicional de Salvador), dando início à tarefa de montar uma verdadeira infraestrutura de clube social, que por muitos anos promoveu festas e recebeu artistas, respondendo aos anseios das sociedades baiana e espanhola, na metade do século passado. Um baile de gala, com a presença das mais altas autoridades locais, inclusive do governador Octávio Mangabeira, marcou no dia 24 de julho de 1948 a inauguração da sede no Corredor da Vitória.
Com o passar dos anos, aquele trecho da avenida mudou as suas características, transformando-se em zona residencial, com o surgimento de prédios com mais de 20 andares e o desaparecimento das antigas mansões. Os amantes do lazer passaram a se concentrar na orla marítima da cidade. Os dirigentes visionários do Centro Espanhol seguiram o mesmo caminho. Entre os terrenos visitados no litoral optou-se pelo da Avenida Getúlio Vargas. Com a venda dos 500 primeiros títulos de sócio proprietário foi levantada a importância de 400 mil cruzeiros, suficiente para a compra do terreno e começo dos trabalhos, em 20 de março de 1969.
Dez dos mais conceituados escritórios de arquitetura participaram de um concurso para escolha do projeto da sede. Jader Tavares, Fernando Frank e Oton Gomes foram os vencedores. A luta continuou, pedra a pedra, tijolo a tijolo, até que em 1975 a nova sede ficou pronta para ser inaugurada. A diretoria escolheu o dia 25 de julho, data consagrada ao padroeiro da Espanha, Santiago Apóstolo.
O Clube continuou em plena atividade até o mês de Julho de 2010 , quando devido a uma grande obra de reforma , fechou as próprias portas por quase 4 anos. Completamente renovado em todas as suas estruturas, o novo Clube Espanhol fui inaugurado no dia 13 de Junho com uma cerimonia solene à presença de muitas autoridades.
101 anos depois, a majestosa e moderna sede ao lado do Cristo é cada vez mais o ponto de integração entre brasileiros e espanhóis, um espaço que estreita os laços de amizade que unem os dois povos. É a vitória da seriedade, da vontade de vencer e do mesmo espírito de Dom Quixote. “… se algo quero, a nada cedo, nem que pareça impossível…”.
O pedido feito por José Augusto Ventim, que presidiu aquela histórica assembleia de 1911, foi atendido por várias gerações de espanhóis e seus descendentes, que passaram pela diretoria e conselhos do Centro Espanhol. Em 1966, o presidente da mudança, Raul Boulhosa e Boulhosa, afirmou: “Precisamos saber o que queremos para saber para onde vamos”.
A colônia soube o que quis, venceu e continua escrevendo a História, da qual o Centro Espanhol continua sendo uma página viva.